Quieto em si, apreciava o eterno passar de pés. Acumulava poeira e cabelos. Sabia que os loiros eram da menina que ali dormia. Uma vez por semana, sem aviso e com certa rudeza, recebia a visita de uma vassoura. Ficou assustado, paralisado de medo, no dia em que uma barata correu para ele e ali, em seus braços – se os tivesse –, foi esmagada pelo bico fino de um scarpin preto. Aquela arma espremendo o pobre inseto contra ele nunca sairia de sua cabeça – se tivesse uma. Sem jamais poder se aproximar, via seus irmãos: um, mais próximo, logo abaixo da janela, via sempre; outro, somente quando a porta estava fechada. Desconfiava da existência de um terceiro, que devia morar atrás do criado mudo. De longe, avistava um parente, morador da sala em frente. Durante um mês, sumiram os pés. Acumulou a poeira, pesou o ar. Quando voltaram, foi um arrastar de móveis ao centro do quarto. Vassourada, água, pano, cheirinho bom. Novo arrastar, nova ordem. Viu quando a cama cresceu e um pé com roda quase o alcança. Tudo escureceu. Não via mais nada. Canto algum. No escuro, escutava as vozes e os barulhos de costume. Julgou-se morto. Devia estar entre vidas. Houvesse mesmo recimentação, queria vir como canto de teto. Estaria sempre por cima. Vassouradas menos constantes e nada de baratas assassinadas. Quando muito, uma teia de aranha, mas isso seria arte. No alto, imaginava, a vida devia ser muito mais cômoda. Como por encanto.
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Belo demais! *—-*
Bjos
EXISTIR é fácil, embora não seja tão simples.
SER, porém, é como um parto difícil. É a busca eterna e seletiva da felicidade mais que perfeita.
Um dia, o personagem chega lá. Se não chegar, continuará tentando por toda a ETERNIDADE, direito adquirido de que é eterno.
Abração,