Onde já se viu sair para caminhar, logo cedo, carregando máquinas fotográficas, livro, caderno…? Quem já me viu sentado em um banco de praça, às seis e pouco da manhã, garrancheando em um caderno?
Estou na pracinha da filial (!) da Igreja de São Pedro, na Praia da Pitória, em São Pedro da Aldeia (RJ). Atrás de mim, a pequena igreja; do lado direito, uma construção de quatro andares abandonada há anos; à esquerda, um campinho de futebol de areia cercado por grades. Elas não existiam quando estive aqui da última vez.
Alguns pescadores já partiram, cães fazem sua caminhada matinal assim como alguns humanos. Estes talvez estejam buscando o “padrão carioca” de boa forma. Ficam de lá pra cá e de cá pra lá no calçadinho da Pitória. Alguns caminham pela areia “para forçar mais”. Há quem se arrisque a entrar na lagoa. Deve estar um gelo! Mas está bem mais limpa. Há dois anos, lembro, o cheiro era insuportável.
São Pedro da Aldeia guarda características de vila de pescadores, mas tem também traços marcantes da proximidade com a cidade grande: sujeira, barulho, abandono… Até as pessoas já não se cumprimentam. Olham desconfiadas quem vem na direção contrária e desviam o olhar quando se percebem flagradas. Uma ou outra ainda é educada. “Bom dia!” “Bom dia!”
Para mim, parece tão estranho quanto olhar “para o mar” e não ver o sol nascendo. Na verdade, estou olhando para a lagoa e, do ponto onde estou, o sol nasce “por detrás da cidade”. A lagoa vai se iluminando timidamente, a água vai misturando tons de azul-cinza e alaranjados. Os barcos vão ganhando cores.
Há andorinhas, gaivotas e garças. Pelo menos é o que minha ignorância diz. Os bem-te-vis eu garanto. Só ouço e são inconfundíveis.
Percebendo toda a calma ao redor, tenho vontade de nem pensar. Isso sim deve ser meditar de verdade: ausência de pensamento. Chego lá. Com minha mente perturbada – e nem é das mais, garanto! –, sinto vontade me afastar um pouco, sentar à beira de um trapiche e ler algo. E o pensamento já foge para daqui a alguns minutos quando estarei “revelando” as fotos no computador e tentando entender minha própria letra para blogar isso.
Se eu sumir por esses dias, não se preocupem. Devo ter aprendido a viver. Ao menos estarei tentando.

Belo post, Lobão. Senti como se estivesse lá.
Sandro.
A isto se dá o nome de cronica. Então, parabéns ao nosso cronista itinerante. O que mais me intriga é como alguém com tanta coisa na cabeça, máquina pra carregar, entrevistas que fará, entrevista na tv, como alguém ainda tem tempo pra postar aqui. Isto é um mistério, onde arranja tempo meu caro?
ab
joão
Eita que o omi manda prá o Uol…
Essa Região dos Lagos congela a genteno tempo. Ai o tempo não passa e, incrível, a gente tem todo o tempo para fazer tudo e não fazer nada. E a Araruama véia de guerra está linda nas fotos. 😛
Vai lá, microbiozar nos arquivos, vai. 🙂
Trabalhe bastante, aproveite bastante.
Abração!
Seu último texto realmente levou o leitor ao cenário onde você estava. Essa foi a minha sensação ao lê-lo, desde as linhas iniciais, em que você menciona o caderno,o retorno ao ato de escrever, a câmara fotográfica, até a descrição pura, feita com simplicidade e espontaneidade, do que estava ao seu redor. Impressionante como pude imaginar os barcos ganhando cores com a chegada do sol, os pássaros próximos de você, os tons misturados da água. Terei que repetir uma palavra já usada: vivacidade… se me permite, uma “vivacidade sensorial”, em que viver e sentir mantêm-se entrelaçados. Pergunto-me se aprender a viver não está neste entrelaçamento harmônico e puro entre o viver e o sentir…