Maruim é um mosquitinho comum em área de mangue e de pesca por conta da matéria orgânica
São aproximadamente 260 pessoas. A maioria vivendo em pequenos vãos que eles insistem em chamar de casa. Um único cômodo, sem banheiro, “onde dormem dez meninos e três mulheres com o marido”, segundo me explicam. A formação pouca ortodoxa das famílias é denunciada pelos sobrenomes das crianças. Há sempre um sobrenome igual e muitos diferentes. Os pescadores vivem felizes com seus pequenos haréns, com suas creches e assim a vida vai sendo levada.
A criançada vai à escola, mas não tem condição de estudar em casa nem quem as oriente para isso. Nas férias, se não estão correndo pelas pequenas vielas tomadas por esgoto – que às vezes passa dentro da própria casa – e animais doentes, acompanham as mães que catam mariscos para vender. Saem cedo para o mangue e voltam ao final da tarde. Lavam, raspam, cozinham e quando juntam um quilo tentam vendê-lo a cinco reais. Tentam. Porque geralmente fica por quatro, três, quanto derem.
Foi na Comunidade do Maruim que passei parte da tarde desta quinta. Fui acompanhando Canindé Soares e pelo menos outros oito fotógrafos: amadores, profissionais, repórteres fotográficos, curiosos. Já há alguns anos que Canindé empreende ações junto à comunidade. Além das fotos, que mexe com a autoestima dos moradores, já promoveu uma sessão de quase cinema, exibindo o resultado
Macaco velho, eu disparava na frente do grupo para pegar os moradores desprevenidos e, portanto, com naturalidade, ou ficava por último, para quando eles cansavam de posar e, distraídos, voltavam a ser eles mesmos. Gosto de retratos, mas prefiro o fotojornalismo e, nesta última modalidade, não tenho direito de interferir na realidade. Com o pequeno batalhão de fotógrafos apontando suas máquinas, a rotina da comunidade muda e a realidade passa a ser outra: a de um bando de curiosos interferindo na vida alheia.
Se não há como impedir isso, que tal fazer a criançada participar de uma forma diferente e passar para outro lado das câmeras? Saquei um celular e fiz o convite a Júlia, 9 anos: “Você olha por aqui e aperta…”, “Pode deixar que eu sei”, me cortou, já gritando para as coleguinhas se juntarem. Pronto! Fiquei popular na comunidade. De “tira uma foto minha”, o mantra mudou para “deixa eu tirar uma foto?”. Deixo, claro. E assim novos fotógrafos se revelaram no Maruim. Sensação maior só quando passei a anotar os nomes de cada um para posterior identificação. A essa altura, as crianças já tinham a certeza de terem virado celebridades. Novo mantra: “Anota aí o meu nome também”. Anoto, anoto. Cíntia, Maiara, Alice, Gláucia, Mariana, Martinha, Geovana, Alane, Alana, Rafael, Alan, “é com dos ls”, desculpa, Allan, Jackson, Vanessa,… Todos com nome e sobrenome. Tudo gente de verdade! Nenhum deles perguntou como eu me chamava. Ah, tudo bem, eu não sou ninguém mesmo.
Fim do palavrório. Clique aqui e confira o álbum Maruim no Flickr. Aqueles que participaram da caminhada, deixem nos comentários os endereços de seus blogs e flogs. E até a próxima.
Links externos:
Fotos de Canindé Soares no Maruim
Flickr de Leo Carioca

Fotografar o Maruin, apesar de tudo, da degradaçao em que vive aquelas pessoas, para mim ainda é uma coisa muito gratificante, e é gratificante por ver a alegria das crianças, por elas saberem que alguem olha para elas e tambem por poder mostrar para o povo “la de fora” que ali existe alguem, que ali o sofrimento é grande e seria insuportavel para qualquer ser humano “normal”. Valeu mais uma vez.
Apesar do meu pouquíííssimo tempo de experiência na área já consigo observar a minha preferência pelo fotojornalismo. Ainda tenho um pouco de receio em chegar nas pessoas, exercício que estou praticando com a foto. Conhecê-las antes é muito mais gratificante que sair simplesmente invadindo o cotidiano delas. Achei muito legal a idéia de interação com as crianças. O filme “Nascidos em bordéis” aborda a questão de uma forma bem interessante. Enfim, gostaria muito de estar junto nesse projeto.Abraço.
Ola bom dia adimiro muito o trabalho de vcs estou sempre acompanhando,vcs tem um trabalho maravilhoso sentem na pele o que esta comunidade passa,talvez não tenhão dado muito sorrisos mais pode ter certeza que vcs ficaram na lembraça de todos,beijos abraços e fiquem com deus sempre e que deus ilumine muito esta comunidade
começando na rua da Floresta, que não é rua e nem tem floresta, mas um ‘largo’ com uma única árvore no meio, de onde se desenrola o fio do labirinto…
bjs
Vai acabar por se transformar em roteiro. Quando eu estiver em Natal outra vez, quero ir também!
Conheço bem essa àrea… Trabalho com os pescadores e marisqueiras do Maruim e litoral norte!! Projetos de qualificação profissional, remanufaturamento do pescado, pesca artesanal, pesca e conserva da lagosta. Gente tão especial à começar por seus nomes com “dois ls”, muitos engraçados, muitos sofridos.
Abraços sandro. Aqui, realmente sempre algo para ler!!!
Foi muito gratificante como pessoa estar ali naquele dia. Espero voltar mais vezes.
NATÁLIA, a idéia veio justamente do filme Nascidos em bordéis, do qual falei aqui, em janeiro de 2008. E se o Maruim de Natal está longe, procure um em Londrina e arredores. MARCELO e LUANA, pulem para dentro nas próximas ações no Maruim.
Nossa!! sinto que oramos muito pouco ou quase nada em favor dessa gente.que Deus os abençoe e guarde com Sua potentosa mão.